Jornada nas Estrelas: A Série Clássica - onde nenhum seriado jamais esteve


Star Trek, ou Jornada nas Estrelas, é uma das mais famosas e prolíferas franquias do cinema e da tv, além de abranger várias outras áreas.
Como grande fã, não poderia deixar de comentar as várias produções que a compõem. Começo, então, pela Série Clássica, que originou tudo, indo onde nenhum seriado jamais esteve.

A CRIAÇÃO

Na década de 60, a tv americana estava tomada por várias séries de ficção científica. Era a influência da Corrida Espacial, uma das disputas da Guerra Fria, que ocupava quase diariamente as manchetes de jornais de todo o mundo.

Gene Roddenbery, um ex-policial e roteirista, após o fracasso de seu seriado The Lieutenant, tentou desenvolver um novo projeto para a televisão. Foi então que criou uma uma "ópera espacial", uma série de ficção científica inspirada em quadrinhos e cinesséries de sucesso, como Flash Gordon e Buck Rogers. Era uma mistura de ação e aventura no espaço, ou um "faroeste nas estrelas", como o próprio Roddenbery descreveu ao vender o projeto a Desilu. O estúdio criado por Lucile Ball e Desi Arnaz gostou das propostas do programa, mas a dificuldade maior seria encontrar um canal que se dispusesse a exibi-lo. Após oferecê-lo a todos as grandes emissoras americanas, apenas a NBC aceitou.

O EPISÓDIO PILOTO

O piloto, episódio teste, foi produzido entre 1964 e 1965. Jeffrey Hunter, conhecido ator de longa carreira no cinema, foi contratado para interpretar o papel principal, o Capitão Christopher Pike, comandante da nave estelar U.S.S. Enterprise.

O enredo desse episódio mostrava a nave capturando o sinal de socorro de uma nave há muito desaparecida. Uma equipe é enviada ao planeta e descobre os sobreviventes da expedição científica. Entre eles, uma bela jovem chamada Vina, criada pelos cientistas.


O capitão acaba sendo capturado pelo povo habitante do planeta, os talosianos, juntamente com Vina. Descobre-se então a verdade: a nave da expedição realmente havia caído ali, mas não havia nenhum sobrevivente, com exceção da jovem. Tudo fora um plano dos talosianos para capturar um humano para que pudessem se reproduzir e, assim, repovoar o planeta Talos. Eles criam ilusões, mudando a forma de Vina e o ambiente, em uma tentativa de agradar Pike. Mas ele resiste. Enquanto isso, a tripulação da Enterprise, sob o comando da Número Um (Majel Barrett) e do Sr. Spock (Leonard Nimoy), tenta resgatá-lo.


Os executivos da NBC consideraram o seriado "cerebral de mais", "sem ação regular", "muito lento", acreditando que não agradaria o público americano. Geralmente, nessas circunstâncias, o projeto é abandonado. Mas, não foi isso que ocorreu. Os executivos solicitaram um novo piloto, que tivesse mais ação e com algumas outras mudanças.

The Cage, como foi chamado, só foi exibido na tv americana em 1988. Entretanto, parte das cenas foram aproveitadas no episódio A Coleção, da primeira temporada, o único de toda a série com duas partes.


ONDE NENHUM HOMEM JAMAIS ESTEVE

Atendendo ao pedido dos executivos, um novo piloto foi feito. Jeffrey Hunter foi substituído por um ator canadense pouco conhecido, que havia feito, entre outros trabalhos, participações em várias séries de tv: William Shatner. Todo o elenco acabou trocado, com exceção de Leonard Nimoy e seu Sr. Spock, apesar das pressões da NBC de tirá-lo devido suas orelhas pontudas, que lhe davam um ar "satânico". Outros dois personagens que se tornariam regular também tiveram suas estreias nesse episódio, o engenheiro-chefe Scotty (James Doohan) e Sulu (George Takei), aqui como o físico da nave.



A trama mostrava a Enterprise em uma missão pelo espaço, quando encontra os registros de áudio de uma antiga nave terrestre. Na gravação fica claro que a nave atravessou uma tempestade magnética e, nos últimos momentos, a tripulação passou a pesquisar desesperadamente sobre "percepção extra-sensorial". A Enterprise cruza os limites da galáxia e acaba passando por uma barreira magnética. O piloto Gary Mitchell (Gary Lockwood) e a Dr. Elizabeth Dehner (Sally Kellerman) são afetados pela barreira e desenvolvem percepção extra-sensoral. A partir disso, aparecem poderes sobre-humanos, e os dois passam a ameaçar a sobrevivência da tripulação.

Onde Nenhum Homem Jamais Esteve  agradou os executivos do canal. E Jornada nas Estrelas foi programada para estrear na temporada do ano seguinte.


A 1ª TEMPORADA (1966/1967)

A primeira temporada estreou em 8 de setembro de 1966. O primeiro episódio exibido foi O Sal da Terra, que acabou não agradando tanto. A audiência da série durante os 29 episódios desse primeiro ano foi apenas regular, mas garantiu a renovação no ano seguinte.

O elenco, além de Shatner, Nimoy, Doohan e Takei, que apareceram no segundo piloto, também foi composto por DeForest Kelley, conhecido ator do cinema, em especial pelos faroestes que atuou nas décadas de  40 e 50, interpretando o Dr. McCoy. Além dele, Nichelle Nichols tornou-se fixa, como a tenente Uhura. Majel Barrett, que atuou no primeiro piloto, fez durante toda a série participações como a enfermeira Chapel. E Grace Lee Whitney apareceu em oito episódios, como a ordenança Rand.


Alguns episódios interessantes que compõem essa primeira temporada e merecem ser destacados:

Tempo de nudez - uma estranha doença se espalha pela Enterprise, levando as pessoas a liberarem suas emoções guardadas. Um membro da tripulação coloca a nave em perigo, levando Scotty a arriscar um plano para salvar a nave.

As mulheres de Mudd - talvez Harry Mudd, interpretado por Roger C. Carmel, tenha sido o mais icônico personagem não membro da tripulação de toda a série. Na verdade, Mudd é um espertalhão que tenta sempre se dar bem, apesar de ser acusado por inúmeros crimes. Nesse episódio, ele está levando três lindas mulheres para se casarem com mineiros de um planeta desolado. Mas a beleza delas está relacionada com as pílulas de Vênus, uma droga ilegal.

E as meninas, de que são feitas? - procurando o noivo da enfermeira Chapel, um renomado cientista, a Enterprise chega ao planeta Exo III. O Dr. Korby encontra uma antiga máquina alienígena capaz de fazer clones de pessoas e planeja utilizá-la para dominar a  Federação. Ele faz, então, um clone do Cap. Kirk para tomar o controle da Enterprise. Destaque para a participação de Ted Cassidy, famoso por interpretar o personagem Tropeço na série A Família Addams.

O ardil corbomite - a Enterprise se depara com um estranho cubo, que acaba sendo destruído devido a perigosa emissão de radiação. Em seguida, uma esfera brilhante, comandada pelo alienígena Balok, persegue a Enterprise e anuncia que irá destruí-la em resposta ao ataque anterior. Para evitar que isso aconteça, o Cap. Kirk blefa, fazendo Balok acreditar que a Enterprise carrega uma poderosa substância, o Corbomite, que destruirá qualquer nave que atacá-la.

A consciência do rei - a Enterprise vai ao planeta Q, a pedido do Dr. Thomas Leighton, amigo de Kirk. Ele acredita que o líder (Arnold Moss) de uma trupe de atores é na verdade Kodos, conhecido como "O Executor", sanguinário governador do planeta Tarsus IV, onde o capitão cresceu.

O balanço do terror -  a Enterprise se depara com uma nave romulana enquanto investigava uma série de ataques a postos da Federação. Os romulanos nunca haviam sido vistos por humanos, revelando-se fisicamente parecidos aos vulcanos, o que provoca suspeitas de um tripulante sobre Spock. Nisso, as duas naves entram em uma emocioante batalha de "gato e rato".

A licença - o capitão ordena uma licença aos tripulantes em um planeta aparentemente inabitado. Misteriosamente, o que pensam acabam se tornando real, como o Coelho Branco de Alice no País das Maravilhas e um samurai. Enquanto isso, Spock descobre que a Enterprise está em risco devido a grande quantidade de energia absorvida pelo planeta. Participação de Mark Lenard como o capitão romulano.

O primeiro comando - uma equipe de cientistas, incluindo Dr. McCoy e o Sr. Scotty, sob o comando de Spock, são enviados na nave auxiliar Galileo 7 para estudar um quasar. Entretanto, saem de curso e fazem uma aterrissagem de emergência em um estranho planeta. Além dos riscos de ficar ali, a única forma de sair do lugar será deixar alguns dos membros da equipe para trás.

Arena -  a Enterprise é atacada por uma nave alienígena. Enquanto uma persegue a outra, ambas são capturadas pelo poderoso povo Metron, que força Kirk e o capitão da nave da raça Gorn a lutarem em um planeta deserto pela libertação de sua tripulação. A curiosidade fica por conta do capitão gorn, que lembra um réptil.

Amanhã é ontem - a Enterprise acaba indo parar em 1969 e, acidentalmente, resgata o capitão John Christopher, um piloto de caça enviado para investigar um OVNI que, na verdade, era a nave. A tripulação precisa encontrar uma maneira de retornar para o futuro e enviar o "visitante" de volta sem alterar a linha temporal.

Semente do espaço - a Enterprise descobre uma nave à deriva, cuja tripulação está em estado de suspensão. Descobre-se depois que são humanos geneticamente modificados, de força e inteligência superiores que escaparam das Guerras Eugênicas da Terra há muitos séculos. O líder é Khan Niinien Singh (Ricardo Montalbán), que toma o controle da Enterprise. O enredo do segundo filme da franquia, Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan, é uma sequência desse episódio.

Um gosto de armagedom - a Enterprise encontra uma civilização em guerra com o planeta vizinho. Para a surpresa de Kirk, as batalhas são feitas por computador, e as vítimas são realmente mortas em cabines de suicídio. A Enterprise acaba destruída em uma simulação e a tripulação corre risco de ser morta. Uma interessante referência à Guerra Fria.

A cidade à beira de eternidade - considerado por muitos como o melhor episódio de toda a série, venceu o prêmio Hugo. Neste episódio, a Enterprise chega a um planeta remoto, onde encontra um portal do tempo, o "Guardião da Eternidade". Após uma dose acidental de estimulante, o Dr. McCoy acaba atrassando o portal. Para resgatá-lo e impedi-lo de alterar a História, Kirk e Spock vão aos anos 30. A bela atriz Joan Collins interpreta Edith Keeler, uma benfeitora social por quem o capitão se apaixona, mas que precisa morrer para que a História ão seja modificada.

Como é possível perceber, foi até difícil escolher alguns episódios entre todos dessa primeira temporada. Mas também é fácil notar a variedade temática abordada pela série. A Guerra Fria estava à todo vapor e Jornada nas Estrelas ousava ao fazer referências ao conflito. Da mesma forma, a presença da Tenente Uhura (Nichelle Nichols) na ponte de comando expunha a esperança de que no futuro não haveria discriminação de raças, referindo-se à luta pela igualdade racial que ocorria àquela época nos Estados Unidos e também ao movimento feminista.

Versão remasterizada (acima) e versão original (embaixo).

Com relação a parte técnica, a produção da série enfrentou durante as três temporada recursos limitados. Isso é perceptível em alguns cenários e, principalmente, nos efeitos visuais, os mais afetados. Nos anos 60, a tecnologia na área não era tão desenvolvida quanto hoje. Portanto, precisando de custos baixos, os efeitos não poderiam ser os melhores que existiam. Esse mesmo problema também influenciou uma das invenções mais lembradas de Jornada nas Estrelas, o teletransporte. A ideia inicial era que a locomoção dos personagens da nave para os planetas explorados fosse realizada por pequenas naves, como as naves auxiliares. Entretanto, o custo dessas cenas, que ocorreriam em quase todos os episódios seria muito alto. Criou-se, então, o chamado teletransporte, que seria a desmaterialização de um objeto ou indivíduo em um ponto e sua rematerialização em outro local.

Recentemente, todos os episódios da série foram remasterizados, com a inserção de novos efeitos especiais em CGI. Isso possibilitou a conversão para alta definição, com lançamentos em Blu-ray. Mas, para os fãs e nostálgicos, as versões com os efeitos visuais antigos também foram incluídas. A comparação entre os efeitos originais e os novos pode ser vista acima.

A trilha sonora também merece ser lembrada. Alexander Courage, orquestrador e compositor de trilhas de várias séries, foi o responsável pelo primeiro episódio piloto, The Cage. Posteriormente, compôs a trilha para o seriado.

O "Theme From Star Trek" foi seu trabalho mais conhecido, sendo a música utilizada na sequência de abertura. Foi utilizado pela primeira vez em The Cage, ganhando diferentes versões ao longo das temporadas da série, incluindo a voz de uma soprano e órgãos. Gene Roddenberry chegou a compor um letra para a música, provavelmente para garantir direitos autorais sobre a mesma, mas ela nunca chegou a ser utilizada. Vale comentar também outras faixas da trilha sonora. Entre elas, "Sr. Spock", o tema do personagem, com um ar misterioso e que pode ser ouvida em vários episódios de Jornada nas Estrelas. Além dessa,o tema de luta, frequentemente usado nas diversas cenas em que os personagens brigavam com os vilões.

A 2ª TEMPORADA (1967/1968)

Apesar dos índices de audiência apenas regulares, a NBC acabou renovando Jornada nas Estrelas para uma segunda temporada. A estreia ocorreu no dia 15 de setembro de 1967, com a exibição do episódio Tempo de Loucura.

Neste segundo ano também foram produzidos alguns memoráveis episódios, que merecem ser destacados:

Tempo de loucura: o Sr. Spock encontra-se no Pon farr, uma espécie de período de acasalamento dos vulcanos. Ele desvia a rota da Enterprise para Vulcano, apesar de estarem em uma importante missão diplomática. E, em meio a isso tudo, o capitão Kirk acaba em uma luta com Spock.

Nômade: a tripulação da Enterprise entra em contato com Nômade, uma máquina indestrutível e poderosa, que acredita ser Kirk o seu criador.

O reflexo no espelho: uma interferência no teletransporte faz com que o Cap. Kirk, Dr. McCoy, Uhura e Scotty sejam levados para um universo paralelo, onde todos existem em opostos maléficos. No lugar da Federação, um violento império, e os tripulantes vivem em constante conflito, envolvendo-se em assassinatos para subir de posição na nave. Um enredo que inspirou ainda episódios de outras séries da franquia.

Eu, Mudd: a tripulação da Enterprise volta se encontrar com Harry Mudd (Roger C. Carmel), desta vez como rei de um planeta de andróides. Fazendo todos de refém, o plano do espertalhão é escapar com a nave.

A Caminho de Babel: a Enterprise transporta vários embaixadores para uma importante conferência de paz. Entre eles, o embaixador vulcano Sarek (Mark Lenard) e sua esposa (Jane Wyatt), os pais de Spock. Em meio a isso, um dignatário é assassinato e Kirk precisa encontrar o culpado. Esse episódios é uma oportunidade interessante para conhecer diferentes espécies alienígenas no universo de Jornada nas Estrelas, como os andorianos e os tellarianos.

Os anos mortais: a Enterprise chega a um planeta para reabastecer de suprimentos uma base de pesquisa. Ao chegar lá, não encontra ninguém, apesar de ter entrado em contato pouco tempo antes. Logo, descobrem que uma estranha radiação está levando todos os que desceram ao planeta a envelhecerem rapidamente.

Problemas aos pingos:  um dos mais divertidos episódios da série. Um esperto vendedor oferece um pequeno bicho peludo, chamado "pingo". Mas eles se multiplicam rapidamente e, além de encontrar uma solução para controlar o número de "pingos" pela nave, a tripulação também tem que lidar com a presença de klingons em uma estação espacial.

Os senhores de Triskelion: um grupo de membros da tripulação desce a uma estação para uma inspeção de rotina quando são transportados para um estranho planeta, onde são obrigados a lutar em uma arena com humanóides de diferentes espécies.

Um pedaço da ação: a tripulação da Enterprise visita um planeta com uma cultura de violência semelhante aos gângsters dos anos 20.

O computador supremo: a Enterprise fará parte do teste de um novo computador que controla a nave sem qualquer auxílio humano. No início as coisas vão bem, mas depois a máquina fica descontrolada, colocando em risco a vida da tripulação e a Federação.

Missão: Terra: durante uma pesquisa histórica na Terra em 1968, a tripulação da Enterprise encontra um agente intergalático chamado Gary Seven em uma misteriosa missão.


A segunda temporada começa com algumas mudanças no elenco. Walter Koenig passou a integrar o elenco da série como o alferes Pavel Chekov. O personagem era russo e essa foi mais uma crítica à Guerra Fria. Mas um dos principais motivos da entrada de Koenig foi a tentativa de conquistar o público mais jovem. Na época, a série Os Monkees era um dos grandes sucessos da tv americana e o estilo do cabelo igual ao dos integrantes da banda estava na moda.

Essa segunda temporada também foi marcada por apresentar novos elementos do universo de Jornada nas Estrelas. Por exemplo, o planeta Vulcano, os pais de Spock, novas raças, etc.


Apesar dos bons episódios, a audiência reduziu. Com isso, ao fim dos 26 episódios, a NBC cancelou a série. Uma campanha organizada por um casal de fãs inundou a emissora com cartas pedindo a renovação para um terceiro ano. Após muita insistência, a NBC concordou em produzir a terceira temporada, mas colocou Jornada nas Estrelas em um dos piores horários da programação.


A 3ª TEMPORADA (1968/1969)

A terceira temporada estreou no dia 29 de setembro de 1968, com o episódio O Cérebro de Spock. E, logo no início, já enfrentou sérios problemas. Além do horário ruim, a série teve um grande corte no orçamento.

Tudo isso refletiu nos episódios. A qualidade variou muito, mas vários episódios conseguiram se destacar, seja por serem muito bons, seja por serem no mínimo curiosos:

O cérebro de Spock: esse é considerado um dos mais estranhos episódios da série. Nele, um povo de mulheres roubam o cérebro de Spock. A tripulação precisa, então, encontrá-lo.

O incidente Enterprise: sob ordens da Federação, o Cap. Kirk leva a Enterprise a cruzar Zona Neutra. Interceptado por três naves romulanas, Kirk dá a ordem para se render. O plano é transformar-se em romulano e tentar roubar o dispositivo de camuflagem dos romulanos.

Não há beleza na verdade?: a Enterprise precisa transportar um embaixador alienígena, que precisa ficar em uma caixa preta pois sua forma pode causar loucura.

A teia tholiana: o Capitão Kirk fica preso entre dimensões e, enquanto a tripulação tenta resgatá-lo, precisam se livrar da teia que drena energia que os tholianos estão fazendo ao redor Enterprise.

Os herdeiros de Platão: a tripulação da Enterprise fica presa em um planeta habitado por humanóides de poderes psíquicos que os obrigam entretê-los.

Elaan de Troius: a Enterprise precisa transportar uma mimada princesa que pode ser a única forma de haver paz em um sistema estelar.

A última batalha: um dos melhores episódios de Jornada nas Estrelas. Frank Gorshin, famoso por interpretar o Charada na série Batman, foi indicado ao Emmy por sua interpretação de Belle, o único sobrevivente de uma raça que deseja destruir o também único ser de uma outra raça. A diferença entre eles são apenas as cores (preto e branco) trocadas. Uma bela referência à discriminação racial.

As luzes de Zetar: estranhos seres em forma de luz ameaçam a estação de Memory Alpha e a Enterprise.

Os guardiões das nuvens: a Enterprise chega a um planeta cuja civilização vive em um cidade nas nuvens. Entretanto, toda a civilidade e avanço científico contrasta com os maus tratos a um povo que vive na superfície.

Todos os nossos ontens: Kirk, McCoy e Spock ficam presos no passado em um planeta ameaçado por um Supernova.

Apesar dessa variação de qualidade dos episódios, é preciso ressaltar que, assim como nas temporadas anteriores, esse terceiro ano contou também com a colaboração de renomados escritores de ficção científica. Alguns roteiristas também se tornaram nomes importantes da franquia, como Dorothy C. Fontana, antiga secretária de Gene Roddenberry e responsável por alguns dos melhores episódios da série.

As séries de ficção científica, principalmente nos anos 50 e 60, costumavam ter episódios que se passavam em algum momento do presente ou do passado da Terra, mesmo ocorrendo em futuro distante, como no caso de Jornada nas Estrelas. O objetivo muitas vezes era conquistar uma parte maior da audiência, especialmente aquela que preferia assistir programas de outros gêneros, como faroestes e seriados policiais, e que possivelmente eram exibidos no mesmo horário. Dessa maneira, em alguns episódios a tripulação da Enterprise voltou ao passado da Terra ou explorou planetas que possuíam culturas semelhantes a da História humana. Foram ao período da Grande Depressão, nos anos 30; visitaram civilizações que viviam semelhante aos gângsters, ou aos nazistas alemães, os romanos, os gregos, os indígenas norte-americanos... E, obviamente, para que tudo não parecesse surreal, explicações eram devidamente dadas, expondo a criatividade dos roteiristas.

A terceira temporada também foi um marco na história da televisão norte-americana. No episódio Os herdeiros de Platão, William Shatner e Nichelle Nichols, interpretando seus respectivos personagens, protagonizaram o primeiro beijo interracial. Na cena, o Capitão Kirk e a Tenente Uhura são obrigados a interpretarem uma peça de teatro pelo povo de um planeta que segue os costumes da Grécia Antiga. Esses seres possuem poderes de controlar os movimentos humanos e, em determinado momento, obriga os dois a se beijarem.


Após a exibição do último episódio da terceira temporada, O intruso, a NBC cancelou Jornada nas Estrelas. Os fãs até tentaram repetir a campanha anterior, mas os índices ainda menores de audiência fizeram a emissora tomar uma decisão definitiva.

Curiosamente, no ano seguinte a televisão americana modificou o sistema de medição de audiência. E foi possível constatar que a série era o principal programa assistido pelo grupo de pessoas que mais interessava aos anunciantes. Mas já era tarde de mais para voltar atrás.

RESSURGINDO...

No início dos anos 70, Jornada nas Estrelas foi reprisada em diversas pequenas emissoras espalhadas pelos Estados Unidos. Esse sistema, chamado syndication, é muito comum, principalmente com séries canceladas. Mas o caso de Jornada foi especial. As reprises tiveram um enorme sucesso, conquistando um grande número de fãs pelo país.

Em pouco tempo, os trekkies ou trekkers, passaram a se reunir, realizando as primeiras convenções. Começaram a se espalhar também produtos relacionados, como brinquedos, réplicas de phasers, tricorders (objetos utlizados pela tripulação da Enterprise) e uniformes, entre outros.

Logo, Jornada nas Estrelas entrou para a cultura pop. E esse sucesso não passou despercebido pelas emissoras de tv e estúdios. Um nova produção seria realizada. Uma série? Um filme? Não. Um desenho animado.
 
Na segunda parte, a história por trás de Jornada nas Estrelas: A Série Animada.